Crédito
da foto e reportagem: Silvana Guimarães
FRANCISCA MARIA
TENÓRIO – 56 ANOS-
Mora em N. Senhora do Ó, município de Ipojuca- Pernambuco. Trabalha em Porto de
Galinhas vendendo água mineral, cerveja e refrigerante na praia.
“Não sou aposentada
ainda, mas o que ganho dá para me manter"
Francisca teve união estável com
o genitor de seus filhos, foi mãe pela primeira vez com 16 anos, e tiveram mais
dois filhos, essa relação durou três anos por que ele veio a falecer. Depois disso se viu sozinha para criar seus
filhos, que ainda eram pequenos, com idades de: um ano, dois, e três anos, a
diferença de um ano respectivamente para cada um. Conta sua história de vida,
com os olhos cheios d’água, narrando detalhadamente cada episódio, de como
sobreviveu as dificuldades, o sentimento de perda, e a superação. Quando
destruíram sua casa, foi ser moradora de rua, e diz quantos transtornos,
aperreios e o quanto lutou por um prato de comida. “Queimaram minha casa, fui morar na rua, passei
uma dificuldade muito grande, para comer, era preciso lavar pratos, fazer
faxina, varria casa, para poder dar comida aos meus filhos, era tudo difícil
para mim, não tinha um real, meu filho pedia um pão e eu não tinha como lhe
dar, foi quando falei com o dono da padaria e ele me mandava varrer tudo lá por
dentro e no final só recebia dois pães”, voltava a tarde para dormir na rua. Francisca conheceu outra pessoa, e conviveu
junto o suficiente para ficar viúva novamente. Nunca casou, passou três anos
morando com ele, e depois que faleceu, o filho dele que morava com ele expulsou-a
de casa, e tudo começou novamente, as dificuldades, a vida difícil, sem
condições financeiras, sem trabalho fixo, a mesma luta, com uma filha surda e
muda que também não podia ajudar nas despesas, pela dificuldade de conseguir
emprego, por não ter estudado, a situação cada vez mais se complicava. Todavia
o peso do seu sofrimento foi ficando mais leve, motivo pelo qual dessa vez, os
filhos já estavam crescidos, um filho havia casado, e os outros dois ainda
estavam solteiros.
Conseguiram um sítio, e aos poucos levantaram
um lugar para morar, como se expressa Francisca:“ Cortamos um pauzinho fizemos
uma barraca e fomos morar” finalmente se instalaram. “E hoje com a graça de Deus eu
tenho minha casa”. Desabafa, aliviada. “Hoje ainda não estou aposentada, mas o
que ganho aqui na praia da para me manter, eu e minha filha”.
Quando Francisca fala na sua
filha, que é surda e muda, sua voz fica embargada, e a fisionomia um pouco triste,
mas ao mesmo tempo conformada, agradecendo a Deus, e diz: Glória a Deus! Lembra
quando descobriu que ela era surda e muda e o médico disse que precisava usar
aparelho, ir para escola de audição, então me perguntei: “E agora, meu Deus o que vou fazer? A mãe
sempre quer o melhor para o filho, mas eu não tinha nada para dar para minha
filha”. Ela não tinha condições financeiras para comprar, e recorda que sua
filha foi crescendo sem saber ler e escrever e um pouco envergonhada, fala: “Eu
também não sabia ler, mas falava com ela através de sinais”. Colocava na mesa
um pedacinho de pão, um grão de feijão, um pouquinho de macarrão, e se
comunicavam por gestos. “Eu pensava que
estava ensinando a ela alguma coisa, mas não, e assim foi crescendo e não pode
nem trabalhar, por que não sabe nem assinar o nome, mas hoje ela é casada tem
dois filhos, e marido que trabalha”, afirma ela com satisfação e orgulho em ter
sido abençoada, em ter casado sua filha.
Francisca, a pesar de ter
aspecto de uma mulher sofrida, está sempre de bem com a vida, conta sua
história com muita melancolia, mas com um semblante de vencedora, se expressa
emotivamente e transmite muita fé e otimismo, cheia de entusiasmo e muita
pureza no coração, reflete um olhar terno e com muita determinação vai seguindo
seu caminho sempre batalhando, e conquistando a todos com sua simpatia, tem muita atenção e gentileza ao servir seus
clientes. É uma mulher forte, mas quando se lembra de alguns dissabores que passou
muitas vezes os olhos se enchem de lágrimas, momentos tristes, angustiantes,
momento esse, foi quando mataram seu filho, naquele instante que viu seu filho
morto, foi como tivesse tirado um pedaço dela. Ele tinha 17 anos de idade, um
jovem que tinha uma vida toda pela frente, mas que seus projetos e sonhos foram
interrompidos pelo seu próprio colega por causa de um pedaço de cana, através
de brincadeira de bola, jogando futebol. Ela não aguentou o choque, ficou
internada no Hospital Psiquiátrico Tamarineira no Recife por seis meses e
dezessete dias, estava com 33 anos quando mataram seu filho. Hoje convive com a
presença do assassino de seu filho todos os dias na praia, mas comenta que não
quer fazer justiça pelas próprias mãos. Revoltada diz: “Ele matou meu filho com
uma faca enfiada no coração dele”, e na hora que ele estava morrendo, falou para o assassino
“Você me matou e agora minha mãe?” Ele não deu a menor importância, dizendo ao
seu filho: Que nada de mãe! Relata inconformada. “Meu filho me ajudava aqui na
praia” desabafa Francisca.
Diante de tanta dor e sofrimento Francisca
revela:“Não é por que ele matou meu filho vive por aí, eu vou me
entregar, vou brigar, me rasgar, vou maltratar, não, já passou ele matou meu
filho mas não matou minha fé foi difícil foi, ta sendo difícil ver ele todo dia
ta, mas eu passo, porque a maldade dele um dia
ele vai se olhar e dizer assim: Nunca
mais eu faço isso, nunca mais vou deixar uma mãe triste como eu deixei, eu
choro, mas superei, hoje eu estou superada,
posso dizer que sou uma mulher guerreira! Eu superei a dor, a falta, a
perda não é tão fácil, mas Deus é maior que a dor”.
E continua resignada dizendo: “ Ele correu
passou uns tempos fora, depois chegou à justiça marcou a audiência, mas ele foi
primário, a justiça daqui é muito devagar, por isso que não foi preso, mas
deixa a vida dele como está, quem sabe lá na frente ele pode se arrepender e
não fazer mais com ninguém.” Ressalta Francisca.
O papel de mãe requer muita dedicação, independente de ser mãe solteira ou não. Uma mãe
solteira tem dupla responsabilidade, por ser pai e mãe ao mesmo tempo. Muitas
vezes abdica de sua própria vida para poder proporcionar ao filho (a) uma vida
digna, pensando sempre em oferecer o melhor, mesmo enfrentando dificuldades,
procura vencer os obstáculos, com muita determinação e acima de tudo com muito
amor.